Memórias de Rio Branco, Mato Grosso

Praça Central de Rio Branco
Fonte: Prefeitura Municipal de Rio Branco-MT 

Bem no coração de Rio Branco existe uma linda e bem cuidada praça, é a Praça Central que foi construída no local onde era uma escola. Até hoje guardo na lembrança a imagem do “Colégio Velho” que durante muitos anos educou os rio-branquenses. O único prédio do quarteirão era a pequenina escola que ficava ao lado da Construtora do Seu Mané Português. No quarteirão do colégio tinha um campinho de futebol onde a gurizada tentava imitar o Zico e o Pelé. O resto do terreno possuía uma grama baixa que servia de pasto para os burricos que perambulavam pelas ruas da cidade.

No fim dos anos oitenta quando fui morar em Rio Branco, o Colégio Velho ainda funcionava muito bem e o largo servia para tudo quanto era evento. De vez em quando chegava um parquinho de diversões e armava a geringonça velha ali. Tinha roda gigante, carrossel, tiro ao alvo, cachorro-quente, algodão-doce, e muita coisa pra “rapar o bolso” do rio-branquense. Como se não bastasse, até circo chegava, erguia as lonas empoeiradas, fazia o espetáculo pra alegrar o coração do povo e levava mais uma nesga de dinheiro. Quem reclamava era o comércio que sentia a queda do dinheiro a circular na praça. Entretanto, tudo era muita diversão pra população que vivia sem opções.

Naqueles memoráveis idos, o povo fazia as festas juninas no largo do colégio. Todos os anos tinha uma enorme fogueira que subia aos céus levando as fagulhas que se misturavam ao brilho das estrelas. Era uma visão magnífica e também assustadora. A festança religiosa ajuntava gente do Roncador, do Pito, da Corgo da Onça, da Cigarra, do Corgão, do Lambarí, Panorama e de toda a redondeza. As barracas ficavam cheias de muita comida e iguarias. Tudo bem no coração de Rio Branco. 

Certa vez meus amigos me contaram que tinha um rapaz que passava sobre as brasas sem queimar os pés. Toda vez que ouvia esta lenda balançava a cabeça positivamente fingindo acreditar, mas nunca vi nem conheci o poderoso rapaz da fogueira. Se alguém o conhece e se ele estiver vivo, por favor, apresente-o para que eu o conheça. Quero dar-lhe os parabéns.

Pessoas andando sobre as brasas, burros pastando, crianças brincando, o largo do Colégio Velho de Rio Branco era o símbolo da liberdade. Tudo podia acontecer ali.

E por se falar em liberdade, fazia pouco mais de dez anos que a cidade havia se tornado distrito de Cáceres e sonhava em emancipação. Mas ainda guardava os restos da dureza que os imigrantes enfrentaram quando ali chegaram nos paus-de-arara. Era dura a realidade do povo, porém muita coisa estava mudando no Brasil. Naquela época, o país conquistara a liberdade, pois havia saído dos terríveis “anos de chumbo” da ditadura militar. O Ulisses Guimarães lutava lá em Brasília para que todos, incluindo os riobranquenses tivessem um pouco de paz. Era março de 1988 quando eu fixei residência e passei a observar a tranquila cidade e foi também naquele mesmo ano que o Brasil ganhou a Constituição Federativa do Brasil. Ela proclamava os direitos sociais, o bem-estar social e a tão sonhada liberdade.


Os tempos do Colégio Velho nunca mais voltarão, mas a liberdade vive dentro dos corações de todos que passeiam livremente pela Praça Central da pacatíssima e querida cidade de Rio Branco.

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